Empatia e conexão com outras realidades

18:07

Ilustração por Elly Smallwood 

Esse ano fui à Parada LGBT, em SP. Fiquei um pouco lá e, quando já estava planejando voltar para casa, minha mãe e eu encontramos um rapaz chamado William, jogado na calçada. Tinha vômito em volta dele e muita gente passava e não fazia nada. Nós o acordamos e tentamos conversar com ele e ajudá-lo. Ele contou que tinha se desencontrado com os amigos na Parada e, não se lembrava como, tinha ido parar na calçada.

Nesse dia, eu tive um insight ainda maior sobre quanta empatia falta no mundo. William ficou completamente desamparado, sem as menores condições nem de se expressar. Pedia abraços e carinho. Ligamos para seu pai e um amigo e nenhum dos dois foi até lá buscá-lo. Foi um choque de duas realidades, a partir do qual eu tentei me conectar com ele e entendê-lo e auxiliá-lo da melhor forma possível. Acho que isso é empatia.

Segunda-feira passada, minha mãe e eu conhecemos Cauã e sua mãe Ana Paula no metrô. Ele tem 8 anos, é bem pequeno, e está na luta contra um câncer em um osso do pé, o qual gerou vários pequenos tumores e, por consequência, uma deficiência. Cauã tinha cortado o dedão do pé na escada rolante. Não lhe ofereceram cadeira de rodas, nem o levaram a um hospital. Conversando um pouco mais, Cauã começou a se abrir mais e expressava a tristeza dele com relação ao pé e ao sapato que perdeu, por conta do acidente. É de Itapevi e vem de uma família que não dispões de muitos recursos, motivo pelo qual criamos uma vaquinha online para ajudá-lo.

Nas duas situações, me deparei com um mar de gente que só olhava para frente e para o celular, ignorando o que estava ocorrendo no entorno. Ignorando pessoas como o William e como o Cauã, pessoas que precisavam de ajuda, que necessitavam de acolhimento e, principalmente, de empatia.

Dizem que falta amor no mundo. Digo mais: falta empatia. Falta nos colocarmos no lugar das outras pessoas e tentarmos compreender suas situações. A ausência da compaixão e da empatia me fez acreditar que não havia esperanças, que isso havia morrido e cada vez mais estaria ausente. Que bom que me enganei. Nos dois primeiros dias, mesmo antes de criar a vaquinha, arrecadamos R$158 para ajudar o Cauã. No mesmo dia, presenciei situações em que pessoas se apoiavam, tentavam se fortalecer em conjunto, se amparavam. Foi aí que eu percebi que a empatia ainda existe, cabe a nós torná-la algo cada vez mais parte do nosso dia a dia.

Quando nos sentimos mal e temos aquela vontade de receber um abraço, ter com quem compartilhar nossas lágrimas, reconhecemos a importância de uma companhia. Quando nos tratam mal, nos desprezam, lembramos do quão bom é nos sentirmos amadas e valorizadas. Quanto mais mentalizarmos o quão positivo é o impacto das boas atitudes na nossa vida, mais conseguiremos valorizar até os gestos mais simples, mais conseguiremos preencher o nosso cotidiano de atitudes positivas para nós e para com os outros.

A empatia vai existir enquanto houver pessoas dispostas a praticá-la. Que tenhamos mais atenção à nossa volta, que possamos saber como interferir em uma situação delicada na vida de outra pessoa: que possamos cultivar mais empatia e amor no nosso cotidiano. Pequenas atitudes tem um poder maior do que imaginamos. O sorriso e o agradecimento, tanto de William como de Cauã, me fizeram acreditar mais uma vez que vale a pena cultivarmos essas atitudes nas nossas relações com as outras pessoas.

Nalu

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